Comitivas

Comitivas


Bem antes do surgimento dos caminhões gaiola e das estradas pavimentadas, as comitivas formadas por grupos de peões de boiadeiro e suas montarias faziam o transporte das boiadas pelas estradas de terra, chamadas de ‘estradões’, de uma fazenda à outra ou da invernada para o matadouro, percorrendo grandes distâncias, durante dias a fio. Esse movimento socioeconômico e cultural ocorreu mais intensamente na região compreendida pelo norte do Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás, praticamente extinguindo-se no estado de São Paulo na década de 80. 
No Mato Grosso, em Goiás e no Pantanal ainda existem comitivas ativas, pois há locais onde o caminhão não pode chegar, seja pelo excesso de água ou pela escassez de estradas, e cabe às comitivas transportar as boiadas de fazenda para fazenda. Foram as comitivas que deram início a maior e mais importante festa de peão de boiadeiro do país, a Festa do Peão de Barretos. Barretos se destacou porque a cidade era passagem obrigatória dos “corredores boiadeiros”, como eram conhecidas as vias de transporte de gado entre um estado e outro, e por sediar um frigorífico, por isso reunia grande número de peões, que nos encontros mostravam suas habilidades na lida com o gado. 
Mas, longe da poeira dos estradões e da vida difícil dos peões, algumas comitivas ainda existem nas
pequenas cidades, em vários estados do país. Sem a finalidade de transportar o gado e com a participação de mulheres e crianças, sempre vestidos no estilo country, ou ‘traiados’ na gíria caipira, com seus chapéus, botas, cintos decorados, jeans e o principal, a camisa com o nome da comitiva, elas marcam presença em rodeios, shows sertanejos, cavalgadas, desfiles religiosos e encontros.
Entre as várias comitivas ativas em Matão, sete são bem conhecidas, a Matonense, Os Viajantes (do distrito de São Lourenço do Turvo), Fazenda Josefina, Família Unida, Os Brahmeiros (do Sítio Santo Antônio), Sítio São Pedro, Espora Dourada e Clube Hípico e de Rodeio. Elas podem ser vistas frequentemente participando das cavalgadas de 1º de Maio, São Sebastião, Cavalgada Noturna e a mais tradicional, a de 12 de Outubro, dia de Nossa Senhora Aparecida, ou ainda se aventurando por trajetos mais longos, com viagens a cavalo para as cidades de Barretos e Aparecida do Norte.
Na cidade, tudo começou em 1984 quando as primeiras comitivas formadas pelas fazendas Bambozzi, Nova Deli e Sítio São Pedro se reuniram para participar de desfiles em festas de peão na região. Com o passar dos anos, as fazendas encerraram suas atividades mas a comitiva do sítio São Pedro, sob o comando de Sérgio Pirola, segue até hoje.  Essa comitiva existe há 29 anos e nesse tempo a cor da camisa mudou apenas três vezes. “Já foi vermelha amarela e agora é azul”, explica Pirola, que completa dizendo o motivo de estar tanto tempo nessa atividade: “Meu pai sempre gostou de lidar com cavalos e bois, mas eu sou fissurado. Há 50 anos faço parte das comitivas e há 18 trabalho com aluguel de baias, essa é a minha vida”.
As longas viagens são seguidas pelas comitivas ‘Os Viajantes’ e ‘Comitiva Matonense’ que realizam
cavalgadas para as cidades de Aparecida do Norte e Barretos, no estado de São Paulo. Organizadas com antecedência, contam com uma infraestrutura bem diferente de antigamente, com caminhões de apoio que transportam comida, utensílios domésticos, ração e medicamentos.  As paradas em vários pontos para
pernoite aliviam o cansaço do longo dia de viagem, tudo pelo prazer de cavalgar.
‘Os Viajantes’ surgiu em 2008, no distrito de São Lourenço do Turvo, com Gilmar Davoglio, José dos Reis
de Assis (Zézão) e Thiago Prandi (Thiaguinho) que, após uma viagem para Barretos integrando uma comitiva da cidade de Taquaritinga, organizaram- se para participar de festas e quermesses na região. A comitiva com 20 integrantes passou a realizar viagens para a festa do peão de Barretos. A primeira viagem para Aparecida do Norte foi em 2010, agora eles se preparam para a próxima.


No dia 26 de julho a comitiva parte para buscar a imagem peregrina de Nossa Senhora Aparecida, que será
exposta na igreja de São Lourenço, no distrito. “A criação da comitiva vem ao encontro de tudo que vivi, pois desde pequeno sempre estive em contato com animais de grande porte e, depois da primeira viagem, resolvi organizar uma comitiva aqui no Turvo, quem gosta e simpatiza com a atividade é sempre bem vindo”, diz Gilmar Davoglio. 

A Comitiva Matonense foi fundada em 2010, quando Valdir Pinotti, Divaldo Rigueiro, Domingos Caetano, Marcos Rodrigues (Marcão), Sérgio Pirola e Claudecir Mendes, com o intuito de juntar os amigos e praticantes de montaria, se reuniram e ainda convidaram outras comitivas (Sítio São Pedro, Fazenda Josefina, Clube Hípico e de Rodeio e Família Unida) para participarem da Cavalgada rumo a Barretos. Desde então eles somam 30 cavaleiros para a cavalgada rumo a cidade da festa do peão. Valdir Pinotti, um dos diretores da comitiva, diz que os participantes são movidos pelo amor a prática das cavalgadas. “Fazemos pelo amor e por estar no sangue, essa tradição faz parte das nossas raízes e passa de pai para filho”, completa.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A História do Berrante: Tradição Sertaneja que Ecoa Há Séculos

🍃 Chá de Folha de Goiabeira: Para que Serve e Como Preparar

Adeus à Eterna Menina da Gaita: Morre Mary Terezinha, Ícone da Música Gaúcha